
Conta a tradição
que desde criança Huang Di era muito perspicaz, dotado duma inteligência fora
do comum e capaz de estabelecer raciocínios avançados, além do normal para a
sua idade, sobre os mais variados temas.
Durante o seu
reinado Huang Di interessou-se especialmente pela saúde e pela condição humana,
questionando os seus ministros-médicos sobre a tradição médica da época.
Do registro das
conversas entre Huang Di e seus ministros surgiu a obra conhecida actualmente
como Nei Jing (内經) (pinyin: Nèijīng) - "O
Clássico do Imperador Amarelo".
Esta obra é
considerada um dos livros fundamentais da medicina tradicional chinesa.
Divide-se em dois livros, de 81 capítulos cada um:
- Su Wen - "Tratado de Medicina
Interna"
- Ling Shu - "O Pivot Maravilhoso".
Além de uma
concepção sobre a patologia humana suas causas e tratamentos contêm prescrições
sobre a vida e “adaptação” do ser humano de acordo com o sexo e faixas de idade
distinguindo diferentes ciclos: sazonais (5 estações), ciclos circadianos
(Yin/Yang) e ciclos infra e ultradianos (“a grande circulação da energia” que
obedece aos cinco elementos e o ciclo vital) que delimitam a relação dos órgãos
internos com as fases do dia ou períodos comuns da vida humana envolvendo o
nascimento, maturação sexual e envelhecimento.
Há muitas versões
sobe a origem desses textos ideográficos. Alguns estudiosos da história da
China acreditam que o Nei Jing tenha sido realmente escrito por um grupo de
médicos do Período dos Reinos Combatentes, (dinastia Chou orientais, 721-256
Ac.) (Horn; Sussman) , época associada à conquista do ferro e aos grandes
clássicos da cultura chinesa que originaram o Taoismo (a partir do Tao Te King
de Lao Tsé) e Confucionismo (Confúcio), os sábios da corte teriam feito uma
síntese da tradição oral médica chinesa daquela época, naturalmente face aos
recursos da escrita artesanal e instabilidade política da época, sofreu
diferentes adaptações e versões.
Os primeiros papéis
produzidos na China datam o séc. II de nossa era também descobertos em antigo
sítio arqueológico do período Han (estampados como tabuinhas que resultaram na
invenção da xilografia (VIII aC.) e tipografia entre 1380 e 1430. O primeiro
texto de ampla divulgação encontrado é a Sutra do Diamante (Jingangjijing), o
que se deve a divulgação do Budismo. A partir dos séc. XII e XIII as primeiras
grandes coleções de textos enciclopédicos. Gernet J.
A versão da
dinastia Tang (618-906) é uma das mais conhecidas graças ao poder e riqueza
dessa época, contudo a versão mais antiga (clássica) corresponde à dinastia
Han. O livro do imperador amarelo, da forma como é hoje encontrou respaldo nos
achados recuperados em 1973 do túmulo nº3 em Mawangdui Changsha, província de Hunan.
(Fu Weikang).
Além do cânone
básico, a fabricação do aço - imprescindível para compreensão e prática da
acupuntura moderna - e potencial divulgação do papel são referências
suficientes para associar a etnia Han ao desenvolvimento da acupuntura. As primeiras
referências à fundição do ferro são anteriores à esta, correspondem a dinastia
Chou 513 aC., contudo nada impede a prática da acupuntura com agulhas de bronze
(2000 aC.) ou mesmo pedra e ossos.
Na perspectiva da
antropologia estrutural O Livro do Imperador Amarelo corresponde segundo
Levi-Strauss a um "documento bruto" o que equivale a uma etnografia,
elaborada por representantes da própria etnia, segundo ele opinião da qual
também partilha Durkheim e Mauss.
A abordagem
etnográfica traz com ela a dificuldade de comparar povos sem escrita vivendo
organizações naturais de famílias, clãs e tribos ou nações com formações
culturais complexas organizadas no tempo e espaço a partir da escrita em
interação com a nossa civilização.
No caso da China
com cinco mil anos de história expressões com sociedades pré – econômica ou
proto-econômicas, pré - cientificas, ou pré industriais dificilmente se aplicam
a períodos anteriores à formações imperiais dado ao volume do comércio e
tecnologia que se registra desde 2000 aC. , data em torno da qual se assinala o
fim do período neolítico as técnicas de cerâmica Longshan e Yang Shao e nos
remetem aos mitos que fundamentam a organização imperial dos cinco e três
imperadores ancestrais.
O estudo da
dinastia Han, por sua vez nos remete à difícil distinção conceitual, na
perspectiva antropológica entre etnias e dinastias ou à organização destas a
partir das lutas internas pelo poder imperial. Identifica-se hoje na China 56
Etnias, 55 destas (com 60 milhões de pessoas) sob a sombra do poder da
principal nacionalidade, segundo Haesbaert, o grupo Han que envolve 93% da
população.
O estudioso da
civilização chinesa Joseph Needham da Universidade de Cambridge participa da
idéia que a medicina chinesa está embriônicamente integrada ao nosso processo
civilizatório. Identifica uma série de “coincidências” de período histórico e
estrutura conceitual entre esta e a medicina hipocrática inclusive entre os
textos (66 tratados) que compõem corpus hippocraticum (460 – 379 aC.)
destacando a concepção dual, a dinâmica dos cinco elementos e a relação
microcosmo – macrocosmos em especial a relação saúde e meio ambiente.
Governa-se um
estado
Como se frita um peixe pequeno.
(Para fritar um peixe pequeno, é só deixá-lo fritar; não é preciso virá-lo ou interferir de outro modo qualquer. E usa-se lume brando.)
Como se frita um peixe pequeno.
(Para fritar um peixe pequeno, é só deixá-lo fritar; não é preciso virá-lo ou interferir de outro modo qualquer. E usa-se lume brando.)